terça-feira, 8 de novembro de 2011

Banalização do pecado

Texto do Pr. Wilson Franklim -IB Cons. Lafaiete-MG


A BANALIZÃO DO PECADO I
UM PANORAMA DOS DIAS ATUAIS
Wilson Franklim

​“Na verdade não há homem justo sobre a terra, que faça o bem, e nunca peque” (Ec 7:20 ACF). A Bíblia nos ensina que todo ser humano é um pecador por natureza e um transgressor voluntário dos preceitos e leis do Santíssimo Deus Yahweh. Neste sentido, o pecado é universal. Por outro lado, o pósmodernismo tem moldado de forma impressionante o entendimento o significado atual da palavra pecado.

​O fato problemático é que cristãos estão aprendendo menos sobre pecado nas Igrejas, do que aprenderam seus avôs em sua juventude. De fato poucos compensarão tal deficiência através de milhares de livros “evangélicos” e católicos do tipo auto-ajuda: “como vencer na vida”, “cinco passos para vitória”.... E nem mesmo os melhores tratados teológicos do século XX, como os de K. Barth, E. Bruuner, R. Niebuhr, P. Ricoeur e dão ênfase à doutrina bíblica do pecado.

​Meu alvo nessa série de ensaios é reacender, em cada cristão, o conhecimento da realidade bíblica que costumava causar grande preocupação, medo, e ódio pelo pecado, porque muitos dos chamados cristãos da atualidade perderam esse conhecimento.

I. Porque Reafirmar a Doutrina Cristã do Pecado?

Atualmente o que lê sobre pecado, em sua maioria, são hábeis tratados feitos por psicólogos, sociólogos e mesmos alguns teólogos seguidores da pós-modernidade. A verdade é que nenhum desses tratados oferece um mapa conceitual conforme as Escrituras Sagradas o descreve. O enfraquecimento progressivo de nossa consciência de pecado pode parecer fazer sentido e até ser agradável, frente a tantas loucuras que o “modismo apresenta. Todavia, tal fato tem sido devastador no campo pessoal, familiar, quanto na sociedade. Para o indivíduo, o auto-engano é o “anestésico” do pecado. Nessa perspectiva, em termos de sociedade, a mídia televisiva vem apagando o consciente coletivo em suas novelas. Tal fato se dá com introdução gradual de uma filosofia de vida que enfraquece progressivamente a consciência de pecado. Isso acontece pela banalização do estado de decadência pecaminosa a que chegou o ser humano. Em especial na área amorosa e sexual.

A todo momento o magnífico projeto e a ordem estabelecida por Deus na criação é contestado, e mesmo escarnecido por vários autores de novelas e programas humorísticos. É um bombardeio diário, muito bem planejado, para atrair e convencer mais e mais pessoas de que estados da decadência e depravação humana são normais. Em suma, é uma lavagem cerebral de grandes massas em nosso país que vai minando a cada dia a pouca consciência que cada pessoa ainda tem de pecado, estabelecendo uma “nova” cosmovisão. Eis alguns exemplos do momento:

Observem o caso trágico da execução covarde do menino Juan por policiais bandidos no Rio de Janeiro em junho/11. A mídia e mesmo as autoridades fizeram mais estardalhaço por que a perita errou o sexo do menino que quanto aos execráveis indivíduos que cometeram tamanha monstruosidade. Considerando-se as devidas proporções, fez parecer um ato normal comparado ao erro da perita (que pode ter sido intencional ou não!). Mas a questão é que a sociedade perdeu totalmente o foco, o senso do pecado, pior ainda, parece ter se acomodado as coisas horrendas. Pessoas trabalhadoras são mortas todos os dias e aos olhos da sociedade essa tragédia já parece normal. Na contra mão, grupos de direitos humanos parecem ter deixado de defenderem seres humanos para defenderem monstros.

Outro exemplo de tamanha banalização do pecado foi a re-leitura que a Corte maior do Brasil fez da Constituição Brasileira e do Código Civil, numa clara eisegese, isto é: “interpretação de um texto atribuindo-lhe idéias do próprio leitor”1 (Dicionário Houaiss Eletrônico) quando reconheceu como união civil2, a união de pessoas do mesmo sexo. Agora veja o que diz a Carta Magna no Artigo 226 – “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado… § 3º - Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento”. (grifos meus). Na mesma esteira o Código Civil Brasileiro afirma no Art. 1.514. “O casamento se realiza no momento em que o homem e a mulher manifestam, perante o juiz, a sua vontade de estabelecer vínculo conjugal, e o juiz os declara casados”. A falta de consciência de pecado os levou a impor um significado contrário a própria lei para atender uma demanda social de momento... “Mas vejo nos meus membros outra lei, que batalha contra a lei do meu entendimento, e me prende debaixo da lei do pecado que está nos meus membros” (Rm 7.23).
Quanto ao meu posicionamento sei que alguns poderão dizer: porque falar sobre isso? Porque recuperar a consciência de pecado? Porque é uma ordem bíblica. Mas hoje isso não é nada fácil...
 
II. As Dificuldades em Reafirmar a Doutrina Bíblica do Pecado

​Neste ponto qualquer pessoa que se proponha a restabelecer, nos dias atuais, o conhecimento bíblico do pecado enfrentará vários obstáculos. A começar por si mesmo, sua família, a comunidade social em que vive e por fim a sociedade globalizada. Isto acontece porque a consciência (coletiva) da sociedade posmoderna desencoraja com veemência a reprovação moral.

Cristãos honestos e seguidores incondicionais dos preceitos bíblicos, que não aceitam as diversas formas de contra-adição à Bíblia3 muitas vezes são chamados de retrógrados, preconceituosos e até coisas piores. Tal fato se dá pelo encanto que os ideais posmodernos têm provocado nas pessoas, até mesmo em bons pastores. A verdade é que grande parte dos pregadores, dos dias atuais, têm dificuldades para falar contra o pecado.4 Outros que deveriam ser baluartes de Deus face ao seu legado histórico de seguidor da Escritura, geralmente ignoram, e relativizam o pecado.

​O fato problemático é que essa cosmovisão posmoderna infiltrou sua “metástase” em todas as esferas do conhecimento. Essa realidade foi corretamente identificada pelo sociólogo James D. Hunter na área educacional. Para ele os professores escolares não repreendem mais o erro como deveriam: “Parem por favor! Vocês estão perturbando a aula!” Porque estas são palavras julgadoras. Em vez disso o professor “educacionalmente correto” diz: “O que você está fazendo? Como isso o faz se sentir?”5 Em outras palavras o conceito de autoridade se perdeu, estamos formando, talvez, a pior geração da história da humanidade. Isso sem falar na promiscuidade e depravação sexual que dominou os centros de ensino em todas as esferas.

Dos governantes os exemplos que têm chegado é o antipatriotismo, com autoridades mergulhadas na lama da corrupção... Logo, qualquer que levantar voz contra todos esses males enfrentará forte oposição de um sistema em que o próprio pensar foi fortemente corrompido. Mas qual o significado atual da palavra pecado?

III. O Significado Atual da Palavra Pecado

​Cada época exerceu sua influencia negativa sobre o Evangelho. Não há dúvidas de que já estamos vivendo os últimos dias citados pela maioria dos apóstolos do NT. Dias em que as pessoas escolheriam mestres para si mesmo, para ouvirem coisas agradáveis que atendam seus interesses (2 Tm 4.3).

A lamentável verdade é que a palavra pecado hoje se esconde atrás das sobremesas: “chocolate sedução”, “sorvete tentação”... Note-se que o pecado na cosmovisão posmoderna ficou limitado a diversos tipos de comida que podem afetar negativamente o corpo humano. Por outro lado, a transgressão das leis de Deus com mentiras, adultério, prostituição, homossexualismo, desonra aos pais... Sem falar na maior “lepra” do país, as corrupções escandalosas de muitas de nossas autoridades não são mais pecado... De fato, as calorias são a nova medida do pecado no século XXI.

​Mesmo que pessoas secularistas que não vejam seus erros como uma afronta ao Santíssimo Deus, e não estejam dispostas a chamá-los de pecado, elas, como todas as pessoas, aumentam o grau de injustiça sobre a terra causando descumprimento a lei, corrupção, inveja, orgulho, maldade e outras indignidades. Muito do que falo é perfeitamente compreensível para eles, mesmo rejeitando o seu contexto.

Conclusão

Conforme apontado a verdade do cristianismo tradicional, o Evangelho, navega contra uma forte correnteza de uma cultura pósmoderna inundada por uma mídia parcial e tendenciosa. Portanto, a pregação bíblica sobre a doutrina do pecado precisa renovar suas energias. Porque há uma real supressão desencaminhadora do nosso sistema de consciência espiritual. Fica claro que é preciso renovar em nossa memória a integridade da criação do Eterno Deus e focar nossa visão para beleza da sua Graça Salvadora. Nada disso passará até que mais pessoas em posição de liderança comprometidas com Deus se disponham a ensinar, a pregar e conclamar o povo, em termos absolutamente morais. A falta de consciência do pecado tem feito nosso país andar de cabeça para baixo. Já passou da hora de retirarmos a palavra pecado do baú das naftalinas e começar a usá-la de novo, com seu real significado bíblico.

1. Observe que essa prática é um dos pilares da pósmodernidade, o leitor é soberano para impor ao texto o sentido  que melhor lhe convier.
2. Vale ressaltar que a decisão do STF não fala em “casamento” mas em “união civil”, que juridicamente são coisas diferentes. A meu ver é o primeiro passo em direção ao casamento de pessoas do mesmo sexo
3. Destaco aqui toda forma de desrespeito aos preceitos bíblicos em prol dos ideais contemporâneos. Por ex. a glorificação do ser humano colocando o Eterno como servo, o “culto” show, a equivocada ordenação feminina, a enganosa teologia gay, a teologia da prosperidade que ainda persiste enriquece financeiramente seus líderes as custas dos pobres e oprimidos, e muitas outras extravagâncias que adentram e permanecem nas igrejas.
4. Alguns até tem sido enfático para um determinado tipo de pecado, mas parece estar muito mais dirigido contra um grupo social, que ao pecado em si mesmo.
5. Hunter, J. D. Para Mudar o Mundo: a Ironia, Tragédia, e Possibilidade do Cristianismo no Mundo moderno. Oxford University, Press, 2010. Elogios a esse livro veio tanto da academia quanto da Igreja. “as pedras estão clamando...”

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